“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo. “
José Saramago
Estio
Nunca mais chega o verão dos teus braços a prenderem-me na beira do abismo.
E o fim do mundo à espera num calendário rasgado sem saber quantas dores por ele passam!
Nunca mais o dia quente das mãos escondidas a escreverem debaixo da mesa e nas tuas pernas, alucinações geométricas e arreliadas de carência.
Nunca mais chega esse verão apressado a escorrer seiva entre nós.
E o carro veloz e a minha mão galopando no teu corpo, cria de um cio a engrossar num arco fletido.
Nunca mais, nunca mais, a pele preocupada e os caminhos internos exaustos da espera.
Na ditadura do meu corpo , a tua revolução exige o atrevimento de viver, de ser única
sem acomodadas ânsias e culpas ressequidas.
Nunca mais chega o verão, e eu sequestrada nas palavras, em malabarismos fora de prazo.
© Margarida Piloto Garcia